Justiça condena Sheik dos Bitcoins a mais de 55 anos de prisão
Justiça condena Sheik dos Bitcoins a mais de 55 anos de prisão. A Justiça Federal do Paraná proferiu uma sentença pesada contra Francisley Valdevino da Silva, o famoso Sheik dos Bitcoins, sua mãe Claudete Ribeiro Chagas Proencio, e diversos comparsas por um dos maiores esquemas de fraude com criptomoedas já vistos no Brasil.
O caso, que envolveu milhares de investidores e movimentou bilhões de reais, culminou em condenações por crimes de lavagem de dinheiro, organização criminosa e fraude financeira.
O golpe, conduzido principalmente pelas empresas FORCOUNT e INTERGALAXY, prometia retornos extraordinários em investimentos em criptomoedas, atraindo mais de 15 mil pessoas no Brasil e em outros países. No entanto, tudo não passava de um esquema de pirâmide financeira, onde os primeiros investidores eram pagos com o dinheiro de novos participantes, até que a estrutura desmoronou, deixando um rastro de prejuízo.
Esquema de pirâmide milionário
Francisley e seus cúmplices, por meio de suas empresas, ofereciam aos investidores promessas de lucros diários de até 2,8%, com a possibilidade de dobrar o valor investido em poucos meses. Essas promessas eram acompanhadas de uma plataforma online que simulava o crescimento do investimento, fornecendo extratos falsos para dar uma aparência de legitimidade. Com isso, o grupo conseguiu atrair pessoas de diferentes perfis, muitas das quais não tinham qualquer experiência no mercado financeiro.
Além disso, Francisley utilizava seu carisma e influência em comunidades religiosas para convencer ainda mais pessoas a participarem do esquema. Em palestras e eventos, ele prometia prosperidade financeira rápida, o que levou muitas vítimas a investirem suas economias, acreditando na chance de multiplicá-las rapidamente. A tática era clara: aliciar pessoas vulneráveis e sem conhecimento financeiro, que confiavam nas promessas feitas por ele e seus associados.
Como o dinheiro foi desviado?
Grande parte do dinheiro arrecadado foi desviada para contas pessoais de Francisley e dos outros integrantes da organização criminosa. A investigação revelou que eles usavam os recursos para adquirir imóveis de luxo, hotéis, vinícolas, carros de alto valor e outros bens no Brasil e no exterior. Isso tudo foi feito com o objetivo de lavar o dinheiro, ou seja, ocultar a origem ilícita dos recursos e dar a impressão de que o patrimônio acumulado era legítimo.
A operação foi desmantelada após uma investigação que contou com a cooperação da Homeland Security, dos Estados Unidos. O órgão norte-americano entrou na investigação após receber denúncias de cidadãos americanos que também haviam sido enganados pelo esquema. Com a colaboração internacional, a Polícia Federal brasileira conseguiu reunir provas suficientes para acusar Francisley e os demais envolvidos.
As condenações
Após anos de investigação e julgamento, Francisley Valdevino da Silva foi condenado a 56 anos, 4 meses e 10 dias de prisão. Além disso, ele foi sentenciado ao pagamento de uma multa de 2.689 dias-multa, cada um no valor de cinco salários mínimos. A condenação levou em consideração a gravidade dos crimes, o elevado número de vítimas e o prejuízo financeiro causado, estimado em mais de R$ 4 bilhões.
Sua mãe, Claudete Ribeiro Chagas Proencio, também foi condenada por seu envolvimento no esquema. Apesar de não ser a líder, a Justiça considerou que ela teve um papel fundamental na lavagem de dinheiro e na administração das empresas usadas para o golpe. Por sua participação, Claudete foi condenada a 42 anos, 11 meses e 20 dias de prisão, além do pagamento de 1.760 dias-multa.
Outros envolvidos no esquema também foram sentenciados, incluindo Ranieri Augusto Ferrari e André Luis de Almeida Martins, que receberam penas variando de 11 a 48 anos de reclusão, dependendo do nível de envolvimento de cada um no esquema criminoso. Todos foram condenados a cumprir pena em regime inicial fechado, além de multas proporcionais aos valores movimentados.
O uso da imagem de Silas Malafaia
Um dos aspectos mais intrigantes do caso foi o uso da imagem do pastor Silas Malafaia pelo grupo liderado por Francisley. Segundo a sentença judicial, o Sheik dos Bitcoins utilizou a imagem do pastor para atrair novos investidores, especialmente do público evangélico. O nome e a imagem de Malafaia foram amplamente explorados nas campanhas de marketing do esquema, com o objetivo de conferir credibilidade às promessas de retorno financeiro.
Embora o pastor não tenha envolvimento direto com o esquema, a Justiça determinou a investigação de uma transferência de R$ 18 milhões para ele, que teria sido feita sob o pretexto de um investimento em um negócio de venda de artigos religiosos. A Polícia Federal está encarregada de investigar as circunstâncias dessa transferência e esclarecer se houve qualquer ligação com o esquema criminoso. Até o momento, Malafaia nega qualquer envolvimento e aguarda o desfecho das investigações.
Como as vítimas foram afetadas?
As vítimas do esquema liderado por Francisley sofreram perdas financeiras devastadoras. Muitas delas investiram todas as suas economias acreditando nas promessas de retorno rápido e fácil, apenas para descobrir que haviam caído em um golpe. Além do impacto financeiro, muitas dessas pessoas também enfrentam sérios problemas psicológicos, como depressão e ansiedade, devido à perda do dinheiro e dos conflitos familiares que surgiram quando elas convenceram parentes e amigos a investir também.
O prejuízo estimado para as vítimas ultrapassa os R$ 4 bilhões, e a recuperação dos valores perdidos ainda é incerta. A Justiça determinou o confisco de todos os bens adquiridos com o dinheiro do esquema, incluindo imóveis de luxo, vinícolas e carros. No entanto, o valor total recuperado até agora está longe de compensar as perdas sofridas pelas vítimas.
O golpe da pirâmide com criptomoedas
O esquema de pirâmide financeira envolvendo criptomoedas é um dos maiores já registrados no Brasil. Ao contrário de investimentos legítimos em criptomoedas, onde há risco, mas também possibilidade de ganhos reais, o esquema de Francisley usava criptomoedas sem liquidez, conhecidas como “shitcoins”, para atrair os investidores. Essas moedas eram criadas pelo próprio grupo e vendidas como grandes oportunidades de lucro, mas, na prática, não tinham valor real e não podiam ser convertidas em dinheiro.
Quando os investidores tentavam sacar seus lucros, eles enfrentavam dificuldades e atrasos, com justificativas que variavam de “auditorias” a bloqueios temporários das contas. Quando as reclamações se intensificavam, Francisley oferecia acordos parciais para acalmar os investidores mais insistentes, evitando que eles denunciassem o esquema às autoridades.
Investigação e desdobramentos futuros
A investigação, conduzida pela Polícia Federal e pela Homeland Security, revelou um complexo sistema de movimentações financeiras que envolvia mais de 80 empresas criadas para mascarar a origem dos recursos. Relatórios do COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) indicam que, além das movimentações em criptomoedas, o grupo movimentou cerca de R$ 4 bilhões no sistema bancário oficial entre 2018 e 2022.
Apesar das condenações, a recuperação dos valores desviados é incerta, e as autoridades ainda estão trabalhando para identificar outros envolvidos no esquema. A Justiça também determinou que Francisley e os outros condenados sejam responsabilizados pela reparação dos danos causados, mas o valor total a ser recuperado depende de desdobramentos futuros.
Conclusão
O caso do Sheik dos Bitcoins é um alerta para os riscos envolvidos em promessas de ganhos financeiros fáceis. Esquemas de pirâmide, como o montado por Francisley Valdevino da Silva, podem causar danos irreparáveis às vítimas, muitas das quais perderam suas economias de uma vida inteira. As condenações são um passo importante na busca por justiça, mas o rastro de prejuízo financeiro e emocional deixado por esse esquema ainda levará anos para ser superado.
As investigações continuam, e o futuro dos envolvidos no esquema, bem como a recuperação dos valores perdidos pelas vítimas, ainda é incerto. O que fica claro é que promessas de lucros exorbitantes devem sempre ser vistas com cautela e desconfiança, especialmente quando feitas por indivíduos que usam a boa-fé de seus seguidores para enriquecer de forma ilícita.